Brasil, Pátria suja, as vezes,
entretanto, amada sempre...
Paraísos e xadrezes
de três poderes em tempre.
(Sonetos parnasianos estreitos, metrificados sem elisões)
I
Caríssimo Gullart, salve, abraços!
No patamar aonde te encontras
observa-se melhor os prós e contras
de quem vive envolto em retraços.
Tens, agora, visão mais ampliada
do leque de virtudes e mazelas
e das múltiplas brigas e querelas
da nossa Pátria suja, mas, amada.
Imagino o teu constrangimento
ante a amplitude marginal
sujando do sertão ao litoral.
Tudo e todos, a todo momento,
emaranhados em crises morais
envolvendo mortais e imortais.
II
Há nessa pátria suja, poluída,
princípios e valores destorcidos,
com jovens e idosos envolvidos
em antiquadas práticas de vida;
inversão de valores culturais,
carros andando na frente dos bois
e verdades ficando pra depois
no pleno dos diversos tribunais.
Honestidade traz constrangimento,
levar vantagem tem prioridade,
sem distinção, em todo segmento;
ter é mais importante do que ser,
é quantidade versos qualidade
e lutar, lutar... pra sobreviver.
III
Famílias compartilham o cachimbo
e incesto começa já no peito,
ignora-se o que seja respeito
e ética caminha pelo limbo;
o sexo normal se degringolou,
a moda é: pegar, ficar, deixar...
qualquer dupla agora forma par.
Gullart, tudo aqui degenerou!
Por aqui, indecência não tem peias,
feminicídio não tem punição,
menores não hesitam em matar;
são os presos que mandam nas cadeias,
a moda em vigor é corrução,
ninguém sabe aonde vai parar.
IV
O fisiologismo é endêmico,
nepotismo é prática corrente,
inexiste poder independente,
justiça tornou-se tema polêmico.
Se politicamente é correto,
os conchavos assumem o comando,
governos perdem o poder de mando
e não se tem mais nada de concreto.
Na Câmara, Senado e Congresso,
vale tudo em nome do progresso,
mas é o povo quem paga a conta;
o Supremo, por sua vez, apronta,
então, não tendo a quem recorrer
só nos resta: sofrer, chorar, morrer.
V
Ferreira Gullart, ave Agnus Dei!
Aqui, pessoas brigam sem razão,
é luta de irmão contra irmão,
daí, você vê mais do que eu sei!
Injustiça flui de todos os lados,
poetas e artistas de valor
dão lugar aos atletas de favor,
convenientemente, contratados.
Trocas de gentilezas descabidas
ocorrem entre partes envolvidas
visando promover uma à outra;
em benefício de uma e doutra,
usurpam o direito natural
do grupo da equipe principal.
VI
Ver televisão? Não, é maratona
muito difícil para um cafona,
é constrangedor ver gente mandona
que adora ir e vir de carona!
Feminicídio versos homicídio
e fratricídio versos suicídio;
infanticídio versos matricídio
e patricídio versos filicídio...
Corrução, extorsão, perseguição,
discriminação e contravenção,
distorção, coação, sonegação...
Pra degenerescência: conivência,
para incompetência: preferência
e pra maledicência: paciência.
VII
Quem pleitear mudar as vis condutas
terá que ter "aquilo bem roxinho",
pisar em brasa com muito carinho
e girar como fazem as birutas;
engolir seco sem, sequer, tossir,
ter bem mais paciência do que Jó,
dançar pagode, samba e forró
e doar-se sem nada exigir;
terá que restringir as companhias
pra defender-se das patifarias
que seus confrades queiram praticar.
Os bilhões que irá recuperar
é o custo das falsas amizades
transformadas em vis inimizades.
VIII
Gullart, a minha súmula não cabe
a sujeira, sequer, duma cidade,
aumentou muito a perversidade
de quem quer que o mundo se acabe.
A desordem está organizada
e a ordem, coitada, destruída,
ninguém dá um centavo pela vida
de quem transita em sua calçada.
Escola é reduto de bandido,
professor virou saco de pancada,
polícia é cachorro perseguido;
Amazônia é prêmio de lambuja,
direito é ficção ultrapassada
e nós, borras de uma Pátria suja.
IX
Várias situações conjunturais
– ditadas por diversas circunstâncias
policulturais –, cujas observâncias
resultam em visões multiplurais
– envolvendo setores importantes –
justificam as múltiplas visões,
inclusive com as contrafações
normais entre artistas, estudantes...
Mas, em prevalecendo o bom senso,
este vil interstício, muito tenso,
tende a dar lugar a sensatez.
Fora a corrupção e morbidez,
prevalece justiça e razão
vitais ao equilíbrio da nação.
X
Intelectuais, povo e artistas,
docentes e discentes em geral,
têm como objetivo principal
progresso e paz a perder de vistas;
direito a respeito, sim senhor,
educação, ciência, liberdade,
chances, com absoluta igualdade,
pra empresário e trabalhador.
Democracia ou socialismo,
capitalismo versos comunismo...
só o radicalismo não tem vez.
Diante da verdade, sem talvez,
ínfimas diferenças são bobagens
restritas a pequenas engrenagens.
XI
No fundo o que todos nós queremos
é manter a paz em nosso redil,
ser parte integrante do Brasil
e donos do lugar em que nascemos.
Quem está longe sonha em voltar,
eu, por exemplo, não vejo a hora,
o pouco tempo em que estou fora
serviu de chances pra avaliar.
Passeios, viajar... maravilhoso,
principalmente num país brioso
onde há liberdade e progresso,
entretanto, anseio o regresso,
quero abraçar a cada parente
e matar a saudade deprimente.
XII
Ferreira, você não foi exceção,
há Niemeyers, Chicos, Gils, Gabeiras...
que também engrossaram as fileiras
dos que clamaram por libertação;
uma plêiade de heróis brilhantes
que defendiam os seus ideais,
do mesmo modo bons oficiais,
do outro lado, eram militantes.
A minha momentânea releitura:
democracia versos ditadura
divergem de penhor por circunstâncias,
são grupos em opostas militâncias
defendendo um mesmo substantivo
com qualificativo dispersivo.
XIII
Aos Juscelinos, Silvas e Fernandos,
para Garrastazus e Bolsonaros...
os nossos perdões pelos despreparos
que tenham resultado em desmandos.
Registre-se também a gratidão
pelos acertos e por sacrifícios,
renunciando aos seus benefícios,
em prol dos interesses da nação.
Somos farinha de um mesmo saco,
a rigor, não passamos de cossaco
batalhando pra dar o seu melhor.
Destacar o excelso do pior
poderá resultar em injustiça,
esperemos que Deus faça justiça!
Clinton – Massachusetts – USA.
PFA/24.12.2019
