R-ID - Cântico final

O que valem as terras no sertão

se não há sertanejos nos redis,

se não há nutrientes nem refis

que estimulem a renovação?

Qual a motivação do sertanejo

se nos bosques aumentam as clareiras

e bonança são nuvens passageiras

que têm a duração de um lampejo?

O que se esperar do jardineiro

que teve seu jardim desfigurado

e encoberto por um nevoeiro?

Sem a motivação original,

sem a roseira e ensimesmado,

jardineiro é cântico final.

PFA/

S-VIIFE - Fragilidade da roseira

Linhagem de Adão ou vegetais,
roseiras são espécies divinais
sensíveis às mazelas da ferrugem
que destrói igual às feras que rugem.

Semelhantes às reses que não mugem,

tornam-se presas fáceis naturais

como pássaros inda sem penugem

ante à fúria dos cruéis rivais.

Pulverizações, podas aquedutos...

seringas, cateteres e condutos...

unem-se ao poder das orações!

É preciso conter as infeções,

a roseira está debilitada

e sua descendência assustada.

PFA/

S-VIM - Amor & Ingratidão

Enquanto comentava, pesarosa,

lágrimas deslizavam no seu rosto

com evidentes marcas do desgosto

pela cruenta sina desditosa.

Jamais conheceu seu pai biológico,

muito cedo perdeu a genitora

e assumiu o lugar de provedora

dum alheio rebento patológico.

Mas, o motivo do amargo  pranto

e do insuportável desencanto

está no pseudo filho lhe falar:

– Não dá mais mãe, como você reclama!

Cobrar amor porque diz que me ama?!

Eu não sou obrigado a lhe amar!

PFA/

S-VIIFE - Roseira dodói

A roseira está desidratada,

desfaleceu seu riso multicor,

conserva o olhar fixo no nada

e seu aroma fez-se inolor;

metabolização descompensada

altera o melífero teor,

a estrutura é desajustada

e as pétalas perdem o vigor.

O jardineiro corre assustado

em  busca do socorro  necessário

para que o mal seja debelado;

graças, à parte o custo etário,

cujo ônus será sempre cobrado,

nada além dum susto temporário!

PFA/

S-VIM - A rosa e o cacto

  

– A descida é íngreme e tenaz,

trajeto curto, mas acidentado,

há precipícios para todo lado

com armadilhas do lobo voraz!

– Sim, foi difícil ir até o topo

desta trilha marcada por tropeços,

sucessos, hecatombes, recomeços...

sob a égide do Terno Escopo.

– Quem nos dera contar com o apoio

do balsâmico Anjo ante joio

nas intempéries da cruel jornada

que define o fim da caminhada!

– Diálogo da rosa com o cacto

no epílogo do seu terno pacto.

PFA/

C-ISD - Estilos de sextilhas

Para sextilhas fechadas

as rimas são definidas:

um, três e cinco contadas;

dois, quatro e seis, seguidas,

também ficam consagradas

como rimas conferidas.

As rimas são mais restritas

numa sextilha aberta:

versos dois, quatro e seis

formam a medida certa

que define o estilo

duma sextilha correta.

Sextilhas com versos soltos,

rima o três com o um;

dois, com o quatro envoltos,

ocupam lugar comum,

enquanto cinco e seis

são versos independentes.

Quaisquer sextilhas corridas

têm as rimas definidas:

verso um rima com dois,

quatro e cinco são pares

e em opostos lugares

três e seis rimam depois.

Nos versos desencontrados,
rimam um, quatro e cinco
com beleza e afinco;
dois, três e seis são rimados
iguais adornos usados,
como pulseira e brinco.

PFA/

S-IIID - Dia da poesia

Não confundam poeta e poesia,
o poeta pode ser iluminado,
indecente, ilustre, alienado,
uma joia ou uma porcaria…

enquanto poesia, em essência,
é preciosidade que enleva,
é a expressão que reluz e eleva
os sentimentos à magnificência.

Poetas, todos podem se dizer
e poetizar ao seu bel prazer,
a questão é se fazem poesia!

Ser POETA eu bem que pretendia
mas com meus versos e rimas capengas
meus poemas não passam de arengas!

PFA/16.03.2014

S-IIID - Inocente útil

Outrora uma fonte generosa,

árvore de bons brutos e frondosa,

abrigo para muitos pintainhos

que vagavam perdidos e sem ninhos;

pouso certo na hora duvidosa,
perfume ideal, néctar de rosa,
bálsamo contra chagas dos espinhos
que ferem os andantes nos caminhos;

santo prodígio da mãe natureza,
reconhecido pela singeleza
e exaltado por sua bondade,

foi inocente útil, na verdade,
enquanto serviu como doador
de préstimos favores e amor!

PFA/

R-ID - Arrebol do amor

Coral de 30 beija-flores se banhando

Nesta manhã o sol com seu fulgor

curvou-se como simples penitente

diante da beleza ressurgente

da luz do arrebol de um amor.

Um vozerio poli estridente,

de um sacro coral de beija-flor,
sonorizou o palco multicor
do pasmo universo reticente.

Nesse terno cenário divinal

o uirapuru, num solo magistral,

fez reverberar pelo universo

uma sonata onde cada verso

conclamava os céus a assistir

um amor afogado emergir.

PFA/

S-IIID - Liberdade cativa

Poeta pode se manifestar,

é livre pra dizer o que quiser,

podendo aplaudir ou censurar

como, quando e onde lhe aprouver.

Irrestrita, geral e singular

liberdade pra tudo que disser,

inclusive na forma de grafar,

independência plena, sem mister!

Mas, na prática, isto não procede,

tem crítico que olha, pesa, mede

e destrói, como rolo compressor,

obras que, tão só, falam de amor!

Como censurar uma poesia

sem conhecer seu grau de fantasia?!

PFA/

S-VIIFE - Aniversário de casamento.

Cinquenta e dois anos de casados,

sem um dia, sequer, de separados,

mas agora o bicho vai pegar:

não poetizei pra comemorar!

Dona "Eu" me apanhou de surpresa

e, com razão, pôs as cartas na mesa

cobrando a real explicação

pra tanta escassez de atenção.

Como hábil poeta ardiloso,

acusei minha mente de idoso

como causa do vil comportamento

e, reverente, fiz um juramento:
isto jamais irá se repetir!
Usei de tudo pra me redimir!

PFA/

C-VIISD - Briga de idosos

–  Vê se me deixa em paz

eu me viro como der,

pra você não falta homem

pra mim não falta mulher,

velho é resto de gente

mas quem sabe, de repente,

um brotinho não me quer!

–  Deixa de falar besteiras,

agradece ao Senhor

pelo muito que tiveste

em prestezas e amor;

chega de tantas intrigas,

vamos por fim nestas brigas

debaixo do cobertor.

PFA/

C-VIISD - Poetas e galos

Quia                                   Max

                             – Com seus dotes criativos

e sensores multe flexos,

os poetas reproduzem

o que captam seus reflexos

e compõem poesias

que revelam fantasias

ou reais fatos complexos.

– Homem que canta de galo

teve seus dias de frango,

escorregou do poleiro,

chorou na hora do rango,

usou roupas femininas

e apanhou das meninas

pra levá-las pro fandango.

PFA/

C-VIISD - Poetas inatos

           

      

A proeza dum poeta

não se faz e nem se cria,

é feitura divinal,

quando muito se copia;

mesmo não sendo perfeito,

o poeta nasce feito

respirando poesia.

Graças ao sublime dom,
desde cedo inicia
fazer versos e cantar
espalhando alegria;
tudo que faz é direito,
o poeta nasce feito
respirando poesia.

Um poeta, se inato,
é dotado de valia
que aflora permanente
com vigor e maestria;
nada que faz tem defeito,
o poeta nasce feito
respirando poesia.

Diosman e Suassuna,

José Paca ou Maria,
cada um com sua voz
reverbera harmonia;
apesar de imperfeito,
o poeta nasce feito
respirando poesia.

PFA/

S-XVFPF - Despertar do meu ego

Desperta minha vida caprichosa,

desperta da verdade mentirosa;

desperta humildade vantajosa

cuja índole é ambiciosa;

desperta cristandade enganosa,

avara, fútil louca e maldosa; 

desperta poesia fabulosa,

desperta gulodice cabulosa!

Desperta, ó meu ego, em polvorosa,

desperta da loucura glamourosa

contra câncer azul e cor de rosa!

Desperta via sacra dolorosa,

desperta minha crença amorosa,

desperta pra vitória gloriosa!

PFA/

S-IIID - Joio egoísta

Depender de quem não tem o que dar

– não por não ter, porém, por não querer –

é bocado difícil de descer

sem que faça você se engasgar;

é emergir pra não se afogar
e persistir na luta pra viver
ainda que sem chance de vencer
um feroz tubarão em alto mar.

É implorar sem ter quem lhe acuda,
trazendo-lhe a mínima ajuda,
no deserto da sua existência

marcada por cruenta inclemência.
Enfim, quem não tem o que dar, é joio
sem haste e não serve de apoio!

PFA/

S-IIID - Poeticídio

O poeta respira ofegante,
cerceada a sua liberdade,
tornou-se presa fácil da vontade
do supremo poder beligerante.

"– Assim não!" se arvora de gigante,
deflagra seus petardos de maldade
e desvirtua a realidade
captando turbidez em sol brilhante.

Sua voz não tem mais reverberância,
é dissonante e sem relevância,
perdeu a altivez e o alcance;

sufocado, confuso e sem chance,
cambaleia sem rumo no deserto
do seu futuro árido e incerto.

PFA/

S-IIID - Senilicídio

Aposentadoria reduzida

e assistência médica negada

se traduz por redução de vida

e sentença de morte decretada.

Com a liberdade reprimida

pela guerra urbana declarada

o senil só vê uma avenida

por detrás de janela envidraçada.

 "– Tu qué matá o veio?" – Quero sim,

velho já deu o que tinha de dar!

  – Mas, o doutor terá o mesmo fim!

Justiça contra todo homicídio,

ninguém tem o direito de matar,

mais rigor contra o senilicídio!

PFA/

S-VIM - Choro de mãe

      
    

Se uma mãe tiver de chorar, que

não seja a do filho inocente

mas que se mostre à outra porque

seu filho tombou como delinquente.

Que se  lhe esclareça cada quê

do desfecho fatal impenitente,

deixando claro o real porquê

do fatídico ato deprimente.

Mais importante: haja providência

que traga ao país independência

da miséria, pobreza, ignorância,

da desonestidade, arrogância

e da infinitude de mazelas

responsáveis por todas as querelas.

PFA/

C-IXC - Cordeneto III - Dia Internacional da Mulher

I

Hasteemos as bandeiras

da eterna gratidão

pra saudar nossas guerreiras

incumbidas da missão

para ser ajudadeiras

do gestor da criação.

II

Escolhida por legítima

decisão do Criador

a mulher tem incumbência

de, por força do amor,

procriar e proteger

o melhor que conceber

para honra do Senhor.

III

Coautora principal

do Divino Arquiteto

desenvolve seu projeto

com sublime maestria;

cuidadora dedicada

se esmera no labor

e exerce com penhor

as ações de cada dia.

IV

Instrutora dedicada,

professora eficaz

e artífice da paz,

nunca fica desligada.

Dela não escapa nada

que afete o seu lar,

sempre pronta pra lutar,

como águia da montanha

jamais cai em artimanha

donde não possa voar.

V

Não se pode negar onisciência

ao excelso autor da criação

que dispôs por Si só a restrição

entre homem, mulher e competência;

coube à mulher a magna regência

no que tange à parte mais sensível,

e ao homem  poder compreensível

pra gerir os destinos do casal

nas questões cujo rumo ideal

talvez cobre ação intransigível.

VI

Atenta pra tudo que lhe diz respeito

não deixa que nada escape dos trilhos,

se for o marido ou um dos seus filhos

exige que façam o que é direito;

reprova a tudo que for imperfeito

e não dá guarida a nada profano,

é ela quem diz qual é o melhor plano

e faz as escolhas que devem seguir,

sem dar chances para ninguém transgredir

a Lei do excelso Pai e Soberano.

VII

Mulher é uma santa em ação

nos altares das sacras cerimônias

meditando com fé e parcimônias

pra seguir o que diz seu coração,

fiel às crenças da religião

seus pecados são causas de insônias.

A família pra ela é sagrada,

faz qualquer sacrifício exigido

para ter o esposo redimido

e manter sua casa preservada

se acaso seu lar for atingido

e tiver sua paz ameaçada.

PFA/

C-ISD - Deus as mulheres e o cordel

Recado de amor

Recebi a incumbência

do Autor da Criação

para saudar as mulheres

de toda a expansão

porém usando cordel

pra fazer a saudação.

Seguindo Sua vontade

nomes não serão citados

para evitar discórdia

entre os mal informados

que na sua ignorância

adoram ser exaltados.

Apenas sacras virtudes

devem ser enumeradas

com especial destaque

para ações deflagradas

em benefício dos pobres

e das mães desamparadas.

O Senhor Deus fez menção

às mulheres diligentes,

humildes e caridosas

que estão sempre presentes

combatendo as misérias

impostas a penitentes.

Falou das mães adotivas

e dos reais galardões

a que hão de fazer jus

nas consagradas mansões

quando serão compensadas

por suas ternas ações.

Destacou as voluntárias

que se doam com prazer

para desbravar os campos

que Lhe dão a conhecer

levando Sua Palavra

e ensinando a crer.

Registrou com simpatia

o trabalho redentor

feito com os vociados

entregues ao desamor

e das crianças órfãs

tão carentes de amor.

Ainda fez referência

às mulheres consagradas

que continuam presentes

mesmo não sendo chamadas

para prestarem socorro

às irmãs abandonadas.

E finalmente registrou

Sua terna gratidão

pra com todas as mulheres

pela sublime missão

de fiéis coadjuvantes

na obra da criação.

O cordel ficou honrado

com o gesto do Senhor

usando seu agregado

como interlocutor

para dar o Seu recado

de gratidão e amor.

PFA/

S-VIIFE - Eurídice

Uma flor que, aos oitenta e um anos,

esbanja o fulgor da juventude

e que, em essência, vive a plenitude

das delícias de todos os seus planos.

Curte intensamente o amor

que ao longo do tempo, puro e terno,

alcançou excelência de eterno

em sua magnificência e vigor.

Roseira que deu vida a tantas rosas

amoráveis, divinas e formosas 

que resplendem a sua existência,

fez-se alma dotada de clemência

e eminente senhora de orações

em consonância com suas devoções.

PFA/