I
"é a presença da ausência
de quem não pode ficar."
II
Saudade é resiliência
que não se pode explicar,
"é a presença da ausência
de quem não pode ficar."
III
Eu vivo por dependência,
constrange-me confessar:
a saudade é contingência
dum vil plural singular,
"é a presença da ausência
de quem não pode ficar."
1V
Cada verso que componho
traz à luz o meu pesar,
é recalque de saudade
o que tento explicitar,
pois, seu teor, em essência,
"é a presença da ausência
de quem não pode ficar."
V
Os poemas que eu faço, na verdade,
têm por tela de fundo relembranças
para as quais inexistem esperanças
de que tornem a ser realidade.
Diminui a saúde, aumenta a idade,
criando fatal clima singular
onde por mais que se tente negar
ninguém pode fugir da consequência
cujo eu "é a presença duma ausência,
surreal, de quem não pode ficar."
VI
É difícil, mas, eu vou resistir,
minha têmpera não pode ceder,
por mais que a dor tente corroer
o que juntos tentamos construir
eu jamais poderei retroceder,
juro por Deus que não vou desistir.
A saudade não vai se eternizar,
seja qual for a sua consistência,
pois é, na real, fútil excrecência
que pretende manter o seu lugar
cujo eu "é a presença duma ausência,
surreal, de quem não pode ficar."
PFA/28.05.2022
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